Por mais que o governador Rafael Fonteles repita o mantra de que “2026 só se discute em 2026”, os cálculos no tabuleiro político piauiense seguem adiantados e, discretamente, já miram 2028. Nos corredores do Karnak, entre cafés discretos e reuniões fora de agenda, o nome de Chico Lucas, atual secretário de Segurança Pública, começa a despontar como uma peça-chave nesse desenho. O burburinho que circulou nas redações nos ultimos meses, colocando Chico entre os cotados para compor uma eventual chapa como vice de Fonteles, não surgiu por acaso. Fontes muito próximas ao governador confidenciaram a esta coluna que a movimentação não passou de um teste de capilaridade um experimento político cuidadosamente calculado para medir a força do secretário junto à opinião pública. E o resultado, ao que tudo indica, agradou.
A popularidade de Chico Lucas é, hoje, um ativo valioso. Sob seu comando, o Piauí consolidou-se como exemplo nacional em gestão de segurança pública (pelo menos é assim que o governo vende), um feito que não passou despercebido pelo eleitor comum. É sintomático que, nas ruas de Teresina, o nome de Chico soe mais familiar que o de alguns senadores piauienses um feito raro para quem, até pouco tempo atrás, orbitava em cargos técnicos.
Mas o ponto central da equação não está no presente, e sim em 2028. É lá que se desenha o verdadeiro papel de Chico Lucas: a disputa pela Prefeitura de Teresina, a última fronteira de poder que o PT ainda não conquistou de forma duradoura. O Partido dos Trabalhadores domina o cenário estadual desde 2002, com a primeira vitória de Wellington Dias. De lá para cá, foram quatro mandatos de Wellington e um de Wilson Martins este último, embora eleito pelo PSB, fruto direto da costura petista e, hoje, de volta aos braços do partido. Duas décadas de hegemonia que moldaram o Estado, mas que ainda encontram resistência na capital, historicamente mais refratária ao projeto petista.
E é exatamente aí que entra o “plano Chico Lucas”. Interlocutores de Fonteles afirmam que o governador já teria assegurado ao secretário um papel de destaque “na hora certa”. O que se desenha é uma transição cirúrgica: em 2026, Fonteles deixaria a governadoria e iria concorrer ao Senado, abrindo espaço para que seu vice assuma o governo e, em 2028, Chico entre em campo como o nome natural do grupo para disputar a prefeitura, com apoio do governador e do senador. Do outro lado do tabuleiro, o bloco liderado por Sílvio Mendes já acena com o nome de Jeová Alencar. O embate, portanto, tende a reeditar a velha disputa entre o campo petista e o grupo que há anos domina a capital mas, desta vez, com um ingrediente novo: o discurso da eficiência administrativa, sustentado pela gestão da segurança. A operação, contudo, não é simples. Há resistências internas. Wellington Dias, o líder histórico do grupo, ainda nutre ambições de retornar ao Senado o mesmo espaço que Fonteles pretende ocupar. Dois líderes, uma só vaga.
E é justamente esse impasse que tem travado algumas engrenagens do tabuleiro. Nos bastidores, já se especula até mesmo uma hipótese mais ousada: a de que o próprio Fonteles, caso o cenário nacional se complique, dispute a Prefeitura de Teresina, deixando o governo nas mãos do vice, uma jogada que, se concretizada, consolidaria a hegemonia quase total do PT no Piauí.
Até lá, porém, o jogo seguirá silencioso, com reuniões reservadas, gestos sutis e muita observação dos movimentos alheios. Chico Lucas, por ora, continua onde está ganhando vitrine, colhendo resultados e sendo “treinado” para o que vem pela frente.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
Fonte:GP1

